Nem o Google e suas respostas para quase tudo conseguem cravar quem foi a pessoa que misturou, pela primeira vez, o creme de avelã italiano com o leite em pó da tradicional lata amarela. Mas o buscador ajuda a ter uma ideia de quando foi que isso aconteceu: as buscas pela combinação começam a partir de 2015. Mesmo com inventor desconhecido, fato é que a combinação Ninho com Nutella se popularizou pelo país, e há uma imensa variedade de sobremesas disponíveis. Bolo, sacolé, docinhos, brownie, barra de chocolate, sorvete, açaí, pipoca, ovo de Páscoa, panetone — tantas invenções que impediriam este parágrafo de chegar a um fim.
Cinco anos após o início do boom, a consolidação da ninhonutellização da confeitaria no Brasil é um fato: em 2020, no início da pandemia, houve um novo disparo nas buscas de receitas com o sabor. A busca “bolo gelado de Ninho com Nutella” teve crescimento de 350% no mês de março, de acordo com o Google Trends. “Esse tipo de sobremesa já substituiu o casadinho na preferência nacional e é uma novidade que se firmou no gosto das pessoas, veio para ficar”, opina a doceira de Fortaleza Nayane Capistrano, vice-campeã do programa de confeitaria “Bake off Brasil: Mão na Massa”, do SBT.
Nayane, formada em gastronomia com 10 anos de experiência em confeitaria, hoje se dedica a dar aulas e formar profissionais, mulheres em sua maioria. Em seus cursos, ela — que tem mais de 100 mil seguidores no Instagram — ensina as alunas sobre tudo o que está em alta na confeitaria: brigadeiro gourmet, copo da felicidade, bolo vulcão (em que o sabor é o carro-chefe) e por aí vai.
“Dou cursos há 3 anos e a combinação sempre gera interesse. Se tem o sabor, mais pessoas se inscrevem, querem aprender. O sabor desse leite em pó agrada e a Nutella, até por ser uma coisa importada, encanta as pessoas. Virou símbolo de ostentação”, diz Capistrano. O biscoito Oreo, segundo ela, também vem brilhando.
Formada em gastronomia e engenharia de alimentos, a confeiteira Joyce Galvão concorda que o fato de a novidade vir de além-mar ajudou na popularização do produto. “A Nutella chegou no Brasil em 2005 como um produto italiano superespecial, a que ninguém tinha acesso. Ou seja, novidade, e ainda mais gringa, faz sucesso por aqui”, diz ao TAB.
No entanto, Galvão acredita que o consumo em massa acaba viciando o paladar. O gosto é definido pelo que é oferecido pela indústria — e essa oferta tende a ser doce, muito doce.
“Ao contrário da gianduia (pasta de chocolate com avelã tradicional), que é potente em sabor e nada doce, Nutella é muito doce. Acho que o brasileiro não conhece o doce bom de verdade. É mais caro, feito por profissionais que estudaram e levam o ofício com paixão. O chocolate e o leite combinam perfeitamente, mas esse produtos são simulacros de comida”, diz ela, que explica que o excesso de açúcar tem várias razões para acontecer, inclusive aumentar o tempo de prateleira do produto.
A gourmetização do gourmet Na zona norte do Rio de Janeiro, no bairro de Olaria, fica a base do buffet Além do Bolo, da chef Cris Riccioppo, 48. Ela trabalha com festas desde os 14, e faz eventos para empresas como Globo Play, Coca-Cola, camarins do Rock in Rio e festas corporativas.