Liquidez de cacau está ameaçada

 

A queda nas vendas de chocolate do Brasil apontadas no início do ano, e a redução das vendas da Páscoa, divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e derivados (Abicab), com queda de 30%, em comparação à Páscoa do ano passado são os fatores que estão influenciando uma crise que se instala no mercado interno de cacau. 

 

Com a retração da demanda do chocolate, as indústrias processadoras, também estão diminuindo o seu interesse de compra da matéria-prima (cacau), fator este que, está comprometendo a economia regional. O mercado interno tem encontrado dificuldades para adequação às regras impostas nos últimos dias pelas indústrias aos repassadores/cerealistas. 

 

Por ter uma estrutura insuficiente de compras direto do cacauicultor, não atingindo 25% da totalidade, por vários anos, as indústrias incentivaram o mercado de repassadores, que representam hoje 80% das origens de compras. Os repassadores/cerealistas negociam as vendas direto com os cacauicultores, coletam o cacau nas fazendas, organizam a logística, além de padronizar as amêndoas e entregar as cargas já prontas diretamente nas unidades de processamento instaladas no sul da Bahia. Este mercado faz com que a venda em amêndoas mantenha a sua liquidez (pagamento imediato), fomentando grande parte da economia nas cidades produtoras. 

 

Á crise mundial de consumo e a queda de processamento em países da Ásia, Europa e os Estados Unidos, está favorecendo a pressão dos preços pela indústria chocolateira a  redução dos rations praticados na venda de derivados do cacau pelas indústrias processadoras. Segundo analistas do setor, a situação está gerando a maior crise setorial dos últimos 30 anos. 

 

“Os deságios praticados nos preços de cacau in natura são os maiores dos últimos 30 anos. Em algumas origens o mercado já apontou deságio nos últimos dias de –U$500 por tonelada (bolsa de Nova Iorque) paga ao produtor. O cenário está caminhado para um grande comprometimento da liquidez do cacau, o que certamente era até então, o maior dos atributos no comércio do fruto”, contou um analista. 

 

A crise está afetando diretamente o mercado de vendas de amêndoas, uma vez que, para reduzir às compras, as indústrias processadoras aumentaram as exigências de qualidade, que eram praticadas por vários anos, modificando as exigências sem tempo hábil para a adequação chegar até o produtor. Por exemplo, a tolerância para fumaça nas amêndoas passou de 5% para zero, assim como a tolerância de resíduos, o nível de fermentação e acidez das amêndoas também foi modificado, o que surpreendeu todo o mercado. 

 

“As aumento nas exigências é muito importante para garantir a qualidade do produto final e não somos contra. O maior problema é que quando as processadoras emitiram o comunicado para os repassadores, nós ficamos com um prazo curto para informar aos produtores, sem contar nos estoque que já tínhamos nos depósitos que é quase impossível adequar”, explicou um comerciante que atua como repassador/cerealista. 

 

Com essas mudanças, naturalmente, as processadoras aumentaram o tempo de recebimento das cargas por induzir uma verificação mais detalhadas nos lotes. Os caminhões passam entre 3 e 6 dias parados nas portas das processadoras, na tentativa de realizar a entrega do produto, e muitos deles, após as longas esperas, estão sendo devolvidos para os repassadores “porque não atendem as características estabelecidas pelas indústrias”, gerando assim um ônus exaustivo para o mercado de repassadores, que estão ficando descapitalizados e consequentemente baixando os preços de compras de cacau do produtor. 

 

Três grandes processadoras operam no mercado interno de cacau e atualmente apenas duas processadoras estão ativas, uma vez que, a terceira está “fora” do cenário, porque está se organizando para uma transição de gestão. 

 

Como a economia nacional também está em crise, as processadoras estão tentando manter os seus custos cada vez mais reduzidos, não investindo em mais armazéns para alocar maior quantidade de carga, e com isso, elas estão aplicando cotas de volume de compra aos pequenos repassadores e ampliando as exigências aos maiores. 

Na safra em que o país está produzindo números recordes, que representaria um cenário favorável ao produtor de cacau, a realidade frustrou toda a categoria que agora vê, mais uma vez, o mercado de cacau ameaçado, pois com os repassadores estando sem condições de compras, os cacauicultores não tem como vender sua produção e o mercado de cacau entra em crise. Mesmo estando os preços cotados em bolsas elevados e a variação cambial contribuindo para a alta do preço (sustentado devido a fatores climáticos em países africanos), o mercado interno sofre com preços baixos. 

 

Ainda não há expectativa de solução para esta crise do setor. Alguns especialistas apontam a necessidade urgente de adequação da qualidade das amêndoas nacionais para o mercado de exportação, o que também, demandará tempo. Fonte: Mercado do Cacau 

 

 

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