O diabetes e a obesidade são apontados como os grandes vilões do século para a indústria de alimentos, enquanto a desaceleração da economia é vista como oportunidade de crescimento e diversificação. As diferentes “Tendências no mercado de alimentos” foram temas tratados durante o Congresso da Apas 2016. “Internacionalmente o açúcar já é visto com a mesma preocupação e malefícios do tabaco. Todas essas tendências devem se ampliar”, disse Marcel Motta, diretor geral da consultoria Euromonitor International, um dos palestrantes. Em mercados desenvolvidos, por exemplo, os consumidores mais conscientes chegam a evitar os corredores de biscoitos, chocolates e outros alimentos processados. “Muitos corredores centrais estão vendo seus valores decaírem ou estagnarem.”
O afastamento dos big foods, diz Motta, é outra tendência que ganha adeptos. O consumidor está excluindo da lista de compras os alimentos embalados e processados, dando preferência aos saudáveis “Mesmo quando se trata de falsos saudáveis, ou que se aproveitam do apelo de marketing para se fazer passar por naturais” afirmou.
Em consonância com o apelo do consumidor, a indústria e o comércio investem em novos produtos, serviços e layouts dentro das lojas. A Coca-Cola, por exemplo, lançou no mercado externo a bebida Fair Life, sem mostrar o rótulo da fabricante. A Garden Fresh Gourmet, da Campbell, também chega com proposta de saudabilidade. “Os dois produtos passam a impressão de terem sido preparados dentro do supermercado, descaracterizando a marca de seus fabricantes”, exemplificou Motta.
Do lado dos varejistas há uma corrida em inovar e cercar o consumidor por todos os lados, apertando-o numa espécie de cinturão saudável. Massimo Volpe, presidente do Fórum para Associações Internacionais de Varejo (Firae), enfatizou no debate que algumas tendências que estão se firmando em diferentes países muito em breve serão globais. “Hoje há uma revolução por produtos frescos. Os supermercados estão preferindo terceirizar essas sessões para garantir mercadorias de melhor qualidade”, exemplificou. “Nem sempre o preço é o que importa. Mas a chave do sucesso é entender o público alvo”, afirmou. Ele citou a rede de mercados da Califórnia, a Mi Pueblo Foods, que se tornou um modelo de negócio rentável justamente por conhecer muito bem o perfil do seu cliente.
Novas formatações de negócios, segundo Volpe, já ganharam o mundo e devem aportar no Brasil em breve. Entre elas, estão as compras digitais, os nichos de alimentos perecíveis mais saudáveis, que ele chama de “fresh revolution”, e uma grande variedade de produtos de maior valor agregado, ligados à saúde. “Olhem à sua volta. Seus concorrentes de hoje podem não ser seus concorrentes no futuro. E não percam de vista os ambientes digitais”, recomendou.
Na contramão de cenários de crise, Motta chamou a atenção para uma boa notícia: a desaceleração da economia traz boas oportunidades de negócio para a indústria e o varejo. O executivo destacou que 1,5 milhão de brasileiros perderam o emprego em 2015, deixando de fazer as refeições fora do lar. “Esse consumidor prefere produtos de primeira linha, pois tem a sensação de levar para a casa a experiência do restaurante”, explicou. Fonte: Valor