A Nestlé SA, maior empresa de alimentos do mundo, vai reajustar os preços de uma de suas linhas mais tradicionais nos Estados Unidos. A partir de 23 de junho, os produtos da marca Toll House — como petiscos, cacau em pó para panificação e kits de fudge — terão aumentos de preço, conforme revelou um memorando interno obtido pela Bloomberg News.
A decisão da divisão norte-americana da companhia ocorre em meio a um cenário desafiador para a indústria alimentícia global, marcado pela persistência de altos custos de commodities como cacau e café, e por uma crescente sensibilidade do consumidor aos preços.
Tentativas frustradas de reduzir custos
Segundo fontes com conhecimento do assunto, a Nestlé havia tentado negociar com fornecedores ainda no fim de 2024. Em cartas confidenciais enviadas a diversos parceiros comerciais, a empresa solicitava cortes nos preços, concessão de descontos e até mesmo o cancelamento de contratos em vigor — esforços que, em muitos casos, foram recusados.
Essas correspondências tratavam de itens como açúcar e café, componentes essenciais da produção de diversos produtos Nestlé. O fracasso dessas negociações contribuiu para a necessidade de repassar os custos ao consumidor, especialmente diante de uma conjuntura de oferta restrita e inflação resiliente em determinadas categorias de alimentos.
Commodities em alta e impacto nas margens
Embora a inflação de alimentos nos EUA tenha desacelerado e esteja atualmente em patamar de um dígito, produtos como chocolate, café e ovos continuam registrando aumentos superiores à média. De acordo com dados da NIQ, o preço médio de uma unidade de chocolate no país subiu cerca de 18% em relação aos níveis de dois anos atrás, chegando a US$ 3,45 em abril.
O preço do cacau, em especial, atingiu patamares históricos no fim de 2024, ultrapassando os US$ 13.000 por tonelada na Bolsa de Nova York, impulsionado por problemas climáticos e doenças que afetaram plantações na África Ocidental. Apesar de uma recente queda de cerca de 30% nos contratos futuros, os valores permanecem significativamente acima das médias históricas.
O café arábica também apresentou forte valorização, pressionado pela seca nas regiões produtoras do Brasil. Esse contexto obrigou empresas como a Nestlé a repensarem sua política de preços. “Estamos assumindo o máximo de preço possível para cobrir nossos custos, ao mesmo tempo em que levamos em conta a reação do consumidor em um ambiente competitivo”, afirmou o CEO da Nestlé, Laurent Freixe.
Mesmo com os reajustes, a Nestlé sinaliza que a decisão final sobre o repasse ao consumidor caberá aos varejistas, que devem considerar fatores como concorrência, comportamento do consumidor e posicionamento estratégico de marca.
A empresa também revelou metas ambiciosas de economia para 2025, estimando uma redução de 700 milhões de francos suíços (US$ 843,6 milhões) em custos, principalmente por meio da otimização de compras.
A América do Norte segue como um dos pontos de atenção no desempenho global da companhia. A região foi uma das poucas onde os preços médios recuaram no primeiro trimestre, ao mesmo tempo em que a Nestlé perdeu participação de mercado — reflexo de consumidores migrando para alternativas mais baratas em tempos de pressão inflacionária.
Freixe prometeu medidas para recuperar competitividade, como a redução de preços de pizzas congeladas nos EUA. Contudo, doces e chocolates permanecem pressionados, tanto por preços mais altos quanto pela queda no volume de vendas — movimento já sentido por outras gigantes do setor como Hershey e Mondelez.
Com a confiança do consumidor americano em declínio — atingindo em abril o menor nível em quase cinco anos — e políticas tarifárias voláteis sob o governo Trump, o ambiente macroeconômico segue imprevisível. As decisões da Nestlé, embora ancoradas na necessidade de proteger margens, testam o equilíbrio delicado entre lucratividade e fidelidade do consumidor.
Resta saber como os consumidores reagirão aos novos preços e se os varejistas repassarão integralmente os aumentos. Para a Nestlé, o desafio será manter o apelo de suas marcas em meio a uma conjuntura que exige eficiência, flexibilidade e comunicação transparente com o mercado.
Fonte: mercadodocacau com informações bloomberg