O vice-presidente nigeriano Kashim Shettima anunciou ontem o compromisso do país em revitalizar sua indústria de cacau, transformando-se de um mero produtor de amêndoas em um grande processador global. A declaração foi feita durante encontro em Abuja com o presidente da World Cocoa Foundation (WCF), Chris Vincent, reforçando a intenção nigeriana de agregar valor à cadeia de valor agrícola do cacau.
Shettima destacou a recente aprovação da criação do Conselho Nacional de Gestão do Cacau como prova concreta de que o governo federal está disposto a coordenar políticas públicas, investimentos e parcerias que impulsionem o setor. “Não queremos ser apenas produtores de cacau; queremos ser processadores de cacau. Uma tonelada de cacau bruto vale hoje cerca de US$ 9.000, mas, ao processar esse mesmo cacau, chega-se a US$ 30.000. Se for transformado em barras de chocolate, o valor pode superar US$ 50.000”, afirmou o vice-presidente.
Nesse contexto, a Nigéria pretende contar com a colaboração da WCF para modernizar a produção local e adequá-la aos padrões internacionais de sustentabilidade, em especial às exigências da legislação antidesmatamento da União Europeia. Chris Vincent ressaltou que a escassez global de oferta de cacau—cujo preço quadruplicou nos últimos três anos—torna o momento ideal para o país aumentar sua produção de matéria-prima sustentável. “Estamos em meio a uma crise mundial de oferta. Nos próximos dois a três anos, haverá uma oportunidade ímpar para crescimento, especialmente na produção de cacau sustentável”, declarou Vincent.
Para viabilizar essa expansão, o governo da Nigéria comprometeu-se a disponibilizar 10.000 hectares de terra na área do governo local de Kurmi, no estado de Taraba. O governador Agbu Kefas será diretamente envolvido no processo, segundo garantiu Shettima, a fim de facilitar a instalação de projetos-piloto e a chegada de investimentos para unidades de beneficiamento e processamento. “Quero fazer o que falo. Não é apenas uma questão de lucro, mas de bem-estar social e geração de empregos. Nossa mão de obra jovem, cuja média de idade é de 17 anos, está disposta a trabalhar se tiver oportunidade”, declarou o vice-presidente.
Além da destinação de terras, Shettima enfatizou que o governo federal apoiará produtores e cooperativas com acesso a tecnologia, crédito rural e capacitação. A intenção é reduzir a dependência de exportação de cacau em grão e incentivar a criação de pequenas e médias indústrias de processamento ao longo das áreas produtoras. A expectativa é que esse modelo de verticalização traga ganhos significativos à economia local e reduza a fragilidade do agronegócio, hoje dominado pela exportação de matéria-prima sem valor agregado.
Segundo dados apresentados pelo WCF, a escassez de oferta global de cacau atingiu recordes nos últimos anos, elevando substancialmente o preço internacional da amêndoa. Em resposta ao déficit, a Nigéria passa a ser vista como uma fonte estratégica de matérias-primas, sobretudo se conseguir demonstrar conformidade com padrões de produção responsável e rastreabilidade. A parceria com a WCF incluirá exchanges de conhecimento técnico, implementação de boas práticas agrícolas e suporte para certificações de sustentabilidade.
Analistas locais apontam que, se bem-sucedida, a estratégia nigeriana poderá servir de modelo para outros países africanos que hoje exportam grande parte de sua produção sem qualquer processamento interno. A perspectiva de gerar empregos, impulsionar economias regionais e capturar parte do valor agregado no mercado internacional de chocolate tornou-se, segundo Shettima, “uma prioridade nacional”.
Em síntese, a Nigéria almeja não apenas ampliar a área plantada de cacau, mas sobretudo elevar sua capacidade de processamento, integrando toda a cadeia produtiva — do campo à indústria. A participação ativa de organismos internacionais como a World Cocoa Foundation deve acelerar a adoção de requisitos de sustentabilidade e impulsionar o país rumo ao papel de processador global de cacau.
Fonte: mercadodocacau com informações channelstv