Na Cargill, a decisão anunciada há três anos de participar de ponta a ponta da cadeia do cacau já mostra resultados: os projetos de parcerias entre a empresa e produtores começam a se aproximar da meta agressiva de ganhos de produtividade estipulada para os próximos cinco anos no País.
O objetivo é aumentar a produtividade brasileira no cacau, que hoje flutua entre 300 kg e 400 kg por hectare, para algo entre 3.000 kg por hectare e 4.000 kg por hectare no médio prazo. Com isso, será possível dobrar e até triplicar o volume produzido, das atuais 200 mil toneladas por ano para 400 mil toneladas por ano. A meta ambiciosa está em linha com compromissos assumidos pela empresa diante da opinião pública.
“Sabemos que é possível, já temos algumas áreas com esse resultado comprovado”, afirmou Cristina Fagnanello, vice-presidente sênior e diretora geral para o Brasil da Cargill na América do Sul, em evento promovido pela empresa em sua sede em Campinas (SP) nesta quarta-feira.
O objetivo, ela diz, é trazer a produção de volta aos volumes registrados nos anos 1980. Desde o início da década de 1990, o setor sofreu um baque com a incidência do fungo da vassoura-de-bruxa, um fungo que atinge cacaueiros inteiros, em particular na Bahia.
O Brasil se recuperou parcial e gradativamente, e hoje, produz metade do que colhia até então, em lavouras concentradas na Bahia e no Pará. Com isso, é obrigado a importar volumes consideráveis para atender à demanda local.
A importação pesa na balança comercial do País e das empresas envolvidas na cadeia do cacau. Costa do Marfim e Gana, na África, respondem por metade da produção mundial. O Brasil é apenas o sexto maior produtor, com 4% do volume global.
A cotação da commodity, que há três anos rondava US$ 2,5 mil a tonelada, chegou a bater em US$ 12,3 mil a tonelada no ano passado, e hoje está em US$ 8 mil / tonelada. “Os preços em patamares historicamente altos podem tanto catalisar transformações quanto aprofundar desafios pré-existentes”, afirmou Chris Vincent, presidente da World Cocoa Foundation, em um evento realizado em São Paulo no mês passado.
Parcerias e regeneração de lavouras
Para atingir os objetivos de multiplicar por dez a produtividade e dobrar o volume produzido, a Cargill vem apostando em expandir sua atuação na cultura do cacau. A ideia é investir em parcerias com grandes e pequenos produtores para aplicar tecnologia e usar culturas regenerativas em áreas de conversão de pastagens.
Uma primeira iniciativa nesse sentido foi a parceria anunciada há três anos com a Schmidt Agrícola. Em um formato de Sociedade em Conta de Participação (SCP), as duas empresas passaram a implementar a cultura em uma área de 400 hectares em Riachão das Neves, na Bahia, região no Cerrado onde já não havia mais produção em larga escala. No acordo, cada uma concordou em investir US$ 5 milhões, em cinco anos, no desenvolvimento de tecnologias e em treinamentos, maquinário e inovação.
A Cargill mantém desde 2023 outra parceria, no Mato Grosso, com o Instituto Belterra, especializado em sistemas agroflorestais (SAF) — em Hortolândia, a possibilidade de recuperar um saldo de mais de 70 mil hectares de solo degradado no País.
Essa iniciativa envolveu o plantio de quase um milhão de mudas de cacau e de espécies florestais do bioma. Para acelerar a compra, pela Cargill, da produção das fazendas atendidas pela Belterra operam, além de um modelo opcional de “barter” (de permuta), com base na produção do cacau e na restituição do valor investido pela empresa.
Outra parceria, anunciada há um ano, foi com a Algar Farming, no Pará, para promover restauração produtiva usando o cacau. O projeto é realizado na Fazenda Pacajá, com área total de 145 mil hectares, sendo 142 mil hectares mantidos como floresta nativa. Os 3 mil hectares restantes, que anteriormente eram usados para pastagem, agora estão sendo restaurados com base no modelo de sistemas agroflorestais.
A primeira fase, concluída no início deste ano, envolveu o plantio de 100 hectares de cacau para testar o modelo. Ao todo, serão 3 mil hectares plantados, sendo 2.550 hectares de cacau e 450 hectares de floresta, para promover corredores ecológicos.
“Boa parte desses projetos são feitos em áreas de conversão de pastagens, mesclando a plantação de cacau e um sistema de agrofloresta. Dessa maneira, atendemos melhor às necessidades de nossos clientes”, comenta Cristina.
A vice-presidente sênior da Cargill antecipou que a empresa deve anunciar em breve novos projetos no cacau. “Também temos parcerias com pequenos projetos com incubadoras para acelerar o desenvolvimento de novos profissionais no setor. O objetivo é fazer mais com menos”, diz.
Fonte: theagribiz