Plataforma online conecta produtores a consumidores na França

Imagine navegar por um e-commerce (site de comércio) que, em vez de vender itens de moda e beleza ou eletrônicos, oferece carne de porco, legumes e ovos direto da fazenda. No interior da França, isso está tão comum que virou política pública para o setor agropecuário. A iniciativa do governo francês, chamada Agrilocal, tem aproximado os produtores rurais dos consumidores, além de fomentar o potente mercado de orgânicos e ter melhorado a qualidade da merenda de milhares de alunos da rede pública. Isso porque a maior parte dos compradores cadastrados são escolas.

A plataforma, que foi lançada em setembro de 2014, começou em apenas um departamento (o equivalente a Estado) e, ao longo dos últimos dois anos, se espalhou pelo país. Hoje, 20 dos 101 departamentos existentes na França usam a ferramenta. “Começamos com colégios e agora estamos ampliando para outros compradores, como casas de repouso e hospitais, porque as escolas têm dois meses de férias por ano. Com isso, o comércio por meio do programa não para”, explica Fabienne Louvet, coordenadora do Agrilocal em Haute-Saône, departamento pioneiro na adoção da tecnologia.

A criação do canal de comercialização faz parte de uma estratégia francesa para reforçar o emprego no campo, melhorar a competitividade dos produtos da agricultura familiar e acompanhar o desenvolvimento das cadeias produtivas, especialmente a de orgânicos, que cresce dois dígitos ao ano no país, em média, conta Fabienne.

O acesso é gratuito e procura privilegiar o suprimento da demanda por fornecedores locais, uma tendência em toda a França. “A regra é de livre mercado. O usuário entra no sistema, lança a necessidade na plataforma e aguarda um produtor interessado em atender ao pedido”, explica a francesa. Antes de o sistema entrar em funcionamento, o governo promoveu encontros entre vendedores e compradores, para que cada um conhecesse a realidade e as necessidades do outro.

O produtor David Courtoy, que utiliza a plataforma, afirma que a tecnologia tem ajudado na venda de produtos considerados menos nobres, “porque os de primeira têm mercado garantido”. “O que mais vendo são as carnes baratas”, diz. Courtoy é dono de uma fazenda com 150 hectares que produz boi, frango, porco, grãos e eletricidade com dois biodigestores. “Não compramos nada. Todos os alimentos são orgânicos e produzidos na própria fazenda”, conta ele, que tem um lucro líquido anual em torno de 200 mil euros, o equivalente a R$ 840 mil.

Além de garantir mercado aos produtores rurais, a plataforma melhorou a qualidade da merenda escolar. “Antes do programa, a maior parte da comida era industrializada. Agora, é uma característica geral na França de conquistarmos uma fatia maior de mercado da indústria”, comemora o produtor.

Somente em Haute-Saône, 5 mil alunos passaram a ter uma dieta à base de produtos frescos. “Não existe subvenção. Então, precisamos atender ao mercado com o orçamento que as escolas têm, de 1,80 euro, no máximo, por merenda”, afirma o produtor. De acordo com a coordenadora da plataforma, em dois anos, o Agrilocal já negociou 45.000 quilos de alimentos (70% são carnes, seja de boi, porco ou carneiro) e movimentou 185 mil euros, o equivalente a mais de R$ 770 mil.

Consumo em alta
O lançamento do portal de compra e venda de produtos agropecuários também é uma maneira de a França estimular o mercado de orgânicos, conta Fabienne. Segundo ela, existe uma orientação nacional para que ao menos 20% dos produtos servidos em restaurantes coletivos, como é o caso de hospitais e escolas, sejam de campos cultivados sem agrotóxicos. Mas esse porcentual ainda é uma meta a ser atingida.

A França é um dos países da União Europeia que mais incentivam a produção e o consumo de alimentos orgânicos. O número de produtores triplicou nos últimos seis anos – saiu de 10 mil, em 2010, para 30 mil, em 2016. A área cultivada dobrou no mesmo período. Hoje, o mercado movimenta 5 bilhões de euros ao ano, o equivalente a mais de R$ 20 bilhões. Os dados são da Federação Nacional da Agricultura Orgânica (Fnao). No Brasil, esse segmento ainda está no segundo bilhão de reais.

O aumento na área cultivada sem agrotóxicos na França segue a tendência e também reflete uma queda generalizada nos preços internacionais dos produtos convencionais, diferentemente dos orgânicos, que oferecem, em média, 20% mais renda aos produtores, segundo o presidente da Fnao, Julien Adda. Além disso, a Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia oferece subsídios de 160 milhões de euros por ano à França para estimular a conversão de áreas agrícolas convencionais em orgânicas. “A conversão é feita em contrato de cinco anos. Cada cultura tem um subsídio. Para cereais, por exemplo, são 300 euros por hectare ao ano. Mas, nos primeiros três anos, o produtor não pode vender como orgânico, por isso existe esse subsídio”, conta Adda. O produtor que adere à conversão conta ainda com suporte e acompanhamento técnico para mudar totalmente o cultivo dos produtos. Fonte: Globo Rural

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