Um projeto da Embrapa vai possibilitar a melhoria de infraestrutura laboratorial e otimizar o trabalho de pesquisa científica em fitopatologia no Acre. Serão investidos 1,2 milhão de reais na compra de equipamentos e reforma de espaços físicos essenciais para a realização de estudos e geração de conhecimentos técnicos na área. O objetivo é viabilizar a identificação de pragas quarentenárias e apoiar o sistema de defesa vegetal em âmbito estadual e federal em ações preventivas e de controle para evitar a entrada de novas pragas e doenças na agricultura brasileira.
O posicionamento do Acre na fronteira com Peru e Bolívia requer um sistema de defesa agropecuária e florestal com suporte laboratorial que possibilite análises fitossanitárias e diagnósticos mais rápidos e precisos. O projeto “Estruturação do setor de Fitopatologia visando à defesa vegetal e controle de doenças de plantas na Amazônia – Defesacre”, atuará na adequação de espaços físicos e viabilizará a compra de equipamentos para a realização de pesquisas, visando ao atendimento de demandas locais e de outros estados.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa, Sônia Nogueira, especialista em Fitpopatologia e líder do projeto, problemas fitossanitários emergentes na região impõem desafios cotidianos para a pesquisa e exigem maior dinamismo no processo de diagnose de pragas e doenças em plantas. “O fortalecimento das pesquisas permitirá a emissão de laudos fitopatológicos oficiais, requisito básico para a implementação de planos de contingência de pragas quarentenárias iminentes”, destaca.
Executado com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Defesacre tem duração de dois anos. As ações de pesquisa contam com a parceria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Universidade Federal do Acre (Ufac), Instituto de Defesa Agroflorestal do Acre (Idaf), Instituto Federal de Educação e Tecnologia (Ifac) e Viveiro da Floresta, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema). As atividades estão previstas para iniciar ainda no mês de março.
Trabalho conjunto
A existência de organismo quarentenário no território submete os produtos agrícolas brasileiros a barreiras fitossanitárias impostas por parceiros comerciais, podendo comprometer as exportações e causar prejuízos ao país. A Helicoverpa armigera, recentemente registrada em culturas como soja, milho e algodão em diversos estados, e a vassoura-de-bruxa, responsável pela queda na produção nacional de cacau e grandes perdas econômicas para os agricultores, na década de 1990, são casos emblemáticos de pragas quarentenárias que entraram no Brasil e causaram sérios danos à agricultura nacional.
Para o engenheiro florestal Alex Braga de Paula, coordenador de fiscalização de sementes e mudas do Idaf, o aumento do fluxo comercial e de pessoas em regiões de fronteira potencializa os riscos de disseminação de pragas e doenças agrícolas no País. No caso do Acre, por estar situado em área fronteiriça e conviver com esse fluxo crescente, o Estado pode se tornar “porta de entrada” para novas pragas quarentenárias. A integração entre instituições ligadas ao setor produtivo e órgãos de pesquisa é fundamental para garantir a defesa agropecuária do País.
“A união de esforços por meio do projeto permitirá uma atuação preventiva, a partir de ações de fiscalização e controle do trânsito de vegetais e da prospecção de pragas e doenças nas principais culturas do Acre, com coleta e envio de amostras para análise laboratorial. “Além de gerar novos conhecimentos científicos na área de Fitopatologia, esse trabalho conjunto proporcionará suporte técnico para as estratégias de controle e fiscalização e para a tomada de decisão nestes processos”, afirma Alex de Paula.
Prioridades
Serão adquiridos modernos equipamentos laboratoriais como a PCR (Polymerase Chain Reaction) em tempo real, para realização de análises moleculares de alta precisão, e câmaras de inoculação de patógenos de plantas, indispensáveis ao processo de diagnose fitossanitária. As pesquisas terão como prioridade o estabelecimento de protocolos para detecção de pragas da bananeira, seringueira, açaí, mandioca, café e outras culturas de importância econômica para o Acre e região amazônica.
Outro foco do Defesacre será a manutenção de equipamentos já existentes na Embrapa e a adequação de casas de vegetação, viveiros e outras estruturas físicas necessárias à execução de pesquisas em Fitopatologia. “Esse trabalho requer ambientes com particularidades como temperatura, luminosidade, radiação e umidade relativa controladas. Tais aspectos permitem a obtenção de mudas sadias para a realização de pesquisas em diversas frentes, incluindo a identificação de agentes causais, capacidade de multiplicação e níveis de agressividade destes organismos, além de ensaios para seleção de plantas resistentes a pragas e doenças e de alternativas de controle biológico”, explica a pesquisadora Sônia Nogueira.
Pragas quarentenárias
De acordo com sistematização do Mapa, são consideradas pragas quarentenárias todo organismo de natureza animal ou vegetal, presente em outros países ou regiões, que mesmo sob controle permanente constitui ameaça à economia agrícola. Podem ser classificadas como não presentes no país e presentes com disseminação localizada e submetidas a programas de controle (A2). Cerca de 500 espécies de pragas quarentenárias apresentam risco potencial de danos à agricultura brasileira.
Um estudo realizado pela Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) e a Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária (SBDA) e Embrapa, apontou 150 pragas e doenças que podem atingir as lavouras brasileiras nos próximos anos. Deste total, dez oferecem maior risco por estarem em áreas próximas, especialmente em regiões de fronteira ou em países com importantes relações comerciais com o Brasil, dentre elas a Monilíase do cacaueiro e o Amarelecimento letal do coqueiro, doenças que serão estudadas no âmbito do projeto.
Segundo Sônia Nogueira, dispor de mecanismos seguros de diagnose de doenças e pragas da agricultura é essencial para manutenção das culturas e aumento da eficiência produtiva do país. “Além de possibilitar o uso de práticas eficientes de controle e a implementação de barreiras sanitárias para garantir a sanidade agrícola e reduzir custos na produção, contribui para a geração de emprego e renda no campo. As ações do projeto vão proporcionar avanços tecnológicos e científicos, com impactos econômicos, sociais e ambientais”, ressalta. Fonte: Embrapa