Os prognósticos não são animadores para os municípios do Semiárido Baiano, com a chegada do Outono, estação climática que começou às sete horas de ontem e se prolonga até o próximo dia 21 de junho, quando começa o Inverno. O fim da chamada estação chuvosa agrava ainda mais a situação no interior do estado, que até ontem, segundo os dados da Defesa Civil, estava com 209 municípios em situação de emergência reconhecida. Até o final do mês, contudo, esse número deverá chegar a 240.
A estiagem, considerada pelos especialistas como a maior nos últimos 100 anos, afeta diretamente 3,99 milhões de habitantes na Bahia nos 209 municípios cujos decretos de Situação de Emergência estão em vigor pelo Governo do Estado. Ontem, contudo, outros 10 municípios – Livramento de Nossa Senhora, Wanderley, Santo Estevâo, Mirante, Retirolândia, Ipecaetá, Rio Real, Campo Formoso, Guajeru e Ouriçangas – encaminharam solicitação para serem incluídos na lista, à Superintendência de Defesa Civil da Bahia (Sudec).
Hoje, o Comitê da Seca, com dirigentes de quase todas as secretarias estaduais se reúne para analisar a gravidade da situação. Conforme informações da Sudec, nos 209 municípios em situação de emergência estão 3.993.763 habitantes. Além da ajuda federal em crédito, em 138 municípios estão atuando 1.138 veículos contratados pelo Exército para fornecer água à população através de caminhões-pipas. Os militares vêm de batalhões na Bahia, Sergipe e Pernambuco.
Com a seca, a Embasa já decretou o racionamento de água em 21 municípios no interior do Estado, de forma a garantir o mínimo de reserva de água nos mananciais. Atualmente enfrentam essa situação as cidades de Queimadas, Santaluz, Senhor do Bonfim, Jacobina, Jaguarari, Caldeirão Grande, Andorinha, Itiúba, Ponto Novo, Filadélfia, Seabra, Brotas de Macaúbas, Ibitiara, Novo Horizonte, Bonito, Palmeiras, Tapiramutá, Entre Rios e Morro do Chapéu. Vitória da Conquista e Belo Campo enfrentam o problema desde o ano passado.
População recorre a São José para salvar as lavouras
O superintendente da |Defesa Civil na Bahia, Paulo Sérgio Menezes, disse que esta é a pior seca, não apenas pelos prejuízos na agricultura e pecuária, mas principalmente pela crise hídrica que vem afetando todos os mananciais do estado. “Se trata agora do abastecimento humano e animal”, resumiu, lembrando quer o fim do período chuvoso no Semiárido só agrava ainda mais a situação.
Na reunião de hoje com o Comitê da Seca, na Casa Civil, a Sudec vai apresentar não só a gravidade da situação, com a perspectiva de que o número de municípios em situação de emergência chega a 240 ainda este mês, mas cobrar m ais ações federais, como o aumento do número de carros-pipas e fornecimento de rações para os animais.
Segundo Paulo Sérgio, “só não houve um total êxodo rural no Semiárido, por causa dos programas sociais, como o Bolsa Família, e ações como a perfuração de poços, cisternas e distribuição de rações para os animais que ainda sobrevivem”, disse. Uma das propostas que será apresentada hoje no Comitê da Seca é justamente a proposta de distribuição gratuita por parte do Governo Federal, de dois quilos de milho por cabeça de gado mantido pelos pequenos criadores. Esses criadores já recebem grandes quantidades de palma, único alimento que ainda resiste à seca.
Com o fim do período chuvoso, que coincide justamente com o Dia de São José, quando tradicionalmente os pequenos agricultores iniciam, o plantio de milho, as chuvas não vieram como e das regiões mais afetadas, o volume maior foi na região de Ponto Novo, onde ficam os municípios de Filadelfia, Ponto Novo, que estão em situação de emergência. A Barragem, que abastece a região e um dos principais pólos de cultivo de banana do Estado, estava apenas com 14,33% do seu volume útil de água acumulado.
Na avaliação da Defesa Civil do Estado, a seca este ano tem características mais agravantes que as anteriores, porque desde 2011 as chuvas têm sido abaixo da média históricas e fez secar ou reduzir de forma drástica os mananciais e até mesmo a lâmina d‘água subterrânea dos lençóis freáticos. O superintendente da Defesa Civil chama a atenção para duas situações que ele considera de extrema gravidade: o Extremo Norte do Estado, nos municípios de Macururê e Chorrochó, e nos limites da região do Lago de Sobradinho, em Campo Alegre de Lourdes, onde para se conseguir água caminhões-pipas chegam a percorrer até 190 quilômetros na zona rural.
INPE e Inmet alertam para escassez de chuvas
O último relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em análises feitas pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) alerta para a probabilidade de menor chuva nos próximos três meses em quase toda a região Nordeste, excetuando-se parte do Litoral e Recôncavo Baiano.
No último dia do Verão, moradores de vários municípios do interior do estado fizeram procissões e participaram de missas em louvor a São José pedindo mais chuvas para salvar as lavouras. Conforme os dados do INPE/Cptec, até o mês de maio as probabilidades de chuvas deverão ser até 40% menores que a media histórica esperada na Região Nordeste. Para o Semiárido em específico, as previsões indicam que para o centro-norte da região a previsão é de menos chuva.
O Outono, que começou ontem às 07h29 é uma estação de transição entre o verão e inverno, caracteriza-se por mudanças rápidas nas condições de tempo, com volume maior de chuvas no leste do Nordeste, onde se inicia o período mais chuvoso. Nas Regiões Norte e Nordeste, as temperaturas são mais homogêneas, com a mínima variando em torno de 22ºC, e a máxima variando entre 30ºC e 32ºC.
Fonte: Tribuna da Bahia