A produção mundial de cacau está sob grave ameaça devido às mudanças climáticas, segundo um novo relatório da consultoria britânica Foresight Transitions, encomendado pela Fundação Europeia do Clima. A análise aponta o cacau como a commodity alimentar mais vulnerável entre as seis principais negociadas globalmente, superando até o café, o trigo e a soja em termos de exposição a riscos climáticos e ambientais.
O estudo acende um sinal de alerta especialmente para a União Europeia, que importa quase 97% do cacau de países com baixa capacidade de adaptação climática e 77% de áreas com severa perda de biodiversidade. A maior parte desse fornecimento vem da África Ocidental, região já marcada por temperaturas crescentes, chuvas irregulares e degradação dos ecossistemas naturais – fatores que afetam diretamente a produtividade e a qualidade do cacau.
“O impacto das mudanças climáticas no cultivo de cacau já é visível nos preços, na disponibilidade do produto e na subsistência dos agricultores”, alerta Camilla Hyslop, autora principal do relatório. Segundo ela, é urgente que empresas do setor de chocolate deixem de tratar a sustentabilidade como marketing e passem a investir em adaptação climática e preservação da biodiversidade como parte central de suas estratégias de mitigação de riscos.
O apelo reforça a necessidade de ação imediata por parte da indústria do chocolate, que depende fortemente de um modelo de produção vulnerável às oscilações ambientais. Com plantações localizadas principalmente em países em desenvolvimento, os produtores enfrentam dificuldades crescentes para manter a produção frente a secas prolongadas, pragas emergentes e chuvas intensas fora de época.
UE depende de sistemas frágeis
Além do cacau, o relatório destaca que 90% do milho importado pela UE e grande parte do trigo vêm de países com baixa ou média resiliência ambiental. Essa dependência de sistemas agrícolas frágeis expõe uma vulnerabilidade crítica na segurança alimentar europeia, contradizendo a percepção de que o continente está protegido de choques externos.
“A Europa precisa repensar a forma como garante sua segurança alimentar. Não basta proteger as cadeias de suprimentos atuais – é necessário transformá-las”, afirma Marco Springmann, especialista em sustentabilidade alimentar da Universidade de Oxford. Ele defende uma diversificação de culturas e maior investimento em resiliência agroambiental, inclusive em países parceiros.
O relatório também chama atenção para o café, com destaque para Uganda, que foi responsável por 10% do café consumido na UE em 2024. O país enfrenta uma sequência de eventos climáticos extremos, como períodos prolongados de seca e chuvas torrenciais, que têm devastado plantações.
“Nossos pés de café estão sofrendo”, relatou Joseph Nkandu, ativista ugandense e defensor dos cafeicultores locais. Ele pede acesso ampliado ao financiamento climático, especialmente para pequenos produtores, que muitas vezes carecem de infraestrutura para enfrentar os efeitos do aquecimento global.
Um futuro incerto para o chocolate
A situação do cacau representa um símbolo claro de um problema global: a crise climática está transformando o que comemos, como produzimos e o que podemos garantir no futuro. Se nenhuma ação for tomada, o chocolate – um dos produtos mais populares do mundo – pode se tornar não apenas mais caro, mas cada vez mais escasso.
Para os consumidores, o relatório serve como um alerta sobre a origem dos alimentos e a importância de apoiar práticas agrícolas sustentáveis. Para os governos e empresas, é um chamado urgente para redefinir prioridades e colocar a adaptação climática no centro da política agrícola e comercial.
Fonte: mercadodocacau com informações dailytimes