*Por Samuel Costa Carvalho
Nos últimos anos, o setor de Food Service passou por profundas transformações. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), o mercado de alimentação cresceu em média 11% ao ano entre 2009 e 2019. A pandemia da COVID-19, contudo, impactou severamente esse segmento, que precisou se reinventar rapidamente. Nesse novo contexto, a inovação tornou-se ainda mais essencial para a sustentabilidade e competitividade dos bares e restaurantes.
Um estudo realizado pelo Boston Consulting Group (BCG) mostrou que 83% das empresas veem a inovação como uma prioridade, mas apenas 3% delas estão prontas para colocá-la em prática. O resultado chama ainda mais atenção quando comparado a 2022, quando 20% das empresas se disseram prontas para aplicar a inovação, o que representa uma queda de 17 pontos percentuais em apenas 2 anos. Isso mostra um cenário desafiador para os empresários, que observam a importância de atualizações contínuas no setor de Food Service, considerando a rápida evolução tecnológica e as mudanças de comportamento do consumidor.
O primeiro passo em direção à inovação é estar atualizado sobre as principais tendências e tecnologias do Food Service. Eventos como a NRA Chicago, Fispal Tecnologia e a Food Hospitality Latam (FHL) são oportunidades valiosas para empresários conhecerem inovações tecnológicas em primeira mão, além de tendências de consumo. Na última edição da FHL, um dos destaques foi a palestra de Juan Matamoros, CEO da Zentra Group, consultoria especializada em gastronomia e hospitalidade, que reforçou o papel da inovação para um mercado altamente competitivo.
A inovação é um tema relevante que permanece em destaque no Food Service, principalmente por ser um mercado de alta concorrência. Para colocá-la em prática, é preciso começar por uma compreensão profunda das preferências e expectativas dos clientes. Por isso, todo processo de inovação começa mapeando o perfil e as preferências dos consumidores e suas sugestões e opiniões sobre o cardápio e o serviço prestado. Além de ouvir o cliente, é essencial envolver os colaboradores, que representam a marca diariamente e têm uma visão única sobre o que pode ser melhorado em termos de atendimento e ambiente. A partir do cruzamento dessas informações, é possível traçar tendências de comportamento de consumo, ajustar fluxos e processos, implementar tecnologias que melhorem o atendimento ou até mesmo fazer ajustes no cardápio.
O cardápio é um dos principais atrativos de um restaurante. Por isso, acompanhar os hábitos e tendências alimentares dos brasileiros também é importante para aplicar a inovação nos negócios. Exemplo disso é o aumento do público vegano no Brasil, que conta atualmente com quase 30 milhões de adeptos, ou 14% da população, segundo dados do IBOPE. Esse número sobe para 16% em grandes centros urbanos, como São Paulo, Curitiba, Recife e Rio de Janeiro, revelando um aumento de 75% em relação a 2012. Incorporar opções veganas e vegetarianas no menu não é mais um diferencial, mas uma necessidade para atrair e reter clientes em um mercado competitivo. Além disso, ingredientes como pistache e outros produtos sazonais têm sido explorados de maneiras criativas, diversificando o cardápio e trazendo uma experiência diferenciada ao cliente. Por isso, trazer combinações de sabores e ingredientes, considerando produtos sazonais pode ser uma boa estratégia. Os menus rotativos, como caldos, sopas e fondues no período de inverno, sucos e saladas no verão, também podem ser uma alternativa.
A digitalização também ocupa um papel fundamental na transformação do Food Service. Ferramentas tecnológicas, como softwares de gestão que monitoram estoque, reservas e pedidos, são essenciais para otimizar operações e oferecer um atendimento ágil e eficiente. No cenário pós-pandêmico, o uso de plataformas de delivery se tornou um meio valioso para alcançar consumidores que preferem refeições em casa, especialmente entre as gerações mais jovens. Conforme aponta uma pesquisa realizada pelo Sebrae, 87% dos pequenos negócios consideram o celular uma ferramenta indispensável, e o uso de softwares de gestão praticamente dobrou, atingindo 50% dos empreendimentos nos últimos quatro anos.
Além disso, práticas sustentáveis têm ganhado espaço no segmento de Food Service, alinhando-se a uma tendência global em prol do meio ambiente. Iniciativas ESG (Ambiental, Social e Governança) e ações de redução de desperdício, como o uso de embalagens sustentáveis e equipamentos mais avançados que consomem menos energia, fazem parte de uma abordagem que não só preserva recursos, mas também conquista a simpatia de um público cada vez mais consciente. Eventos do setor têm apresentado diversas soluções que ajudam os restaurantes a reduzir seu impacto ambiental, agregando valor e demonstrando responsabilidade social.
Por fim, a experiência do cliente é uma dimensão em constante transformação e que exige atenção especial dos empresários. Uma pesquisa da Octadesk em parceria com o Opinion Box revelou que 57% dos consumidores confiam em empresas com as quais já tiveram experiências positivas, tornando a confiança em marcas conhecidas o segundo critério mais importante na hora de realizar uma compra. A reputação no Reclame Aqui, uma plataforma popular para verificar a confiabilidade das empresas, também é um fator-chave, sendo levado em conta por 54% dos entrevistados.
A experiência, portanto, vai muito além da refeição em si, abrangendo desde o atendimento até o ambiente e os detalhes que compõem a interação do cliente com o restaurante. Eventos temáticos, degustações, aulas de culinária e até experiências diferenciadas para o público de delivery são maneiras de fortalecer esse relacionamento e criar uma experiência memorável.
A inovação, portanto, representa um movimento abrangente que vai além da tecnologia, envolvendo o desenvolvimento de produtos, a personalização da experiência do cliente e a busca por práticas mais sustentáveis. Para o setor de Food Service, essas transformações são necessárias para enfrentar os desafios de um mercado dinâmico e cada vez mais exigente, garantindo assim a relevância e o sucesso dos negócios gastronômicos.
Samuel Costa Carvalho é diretor comercial de Food na Linx, empresa do Grupo StoneCo e especialista em tecnologia para o varejo.