A Terra Oleo, startup de Singapura que desenvolve gorduras sustentáveis a partir de resíduos agroindustriais, acaba de captar US$ 3,1 milhões em uma rodada de investimento liderada por ADB Ventures, The Radical Fund, Elev8.vc, Better Bite Ventures e um investidor estratégico do setor de óleo de palma, entre outros.
Além disso, a empresa foi selecionada para o programa Breakthrough Energy Fellows 2025, iniciativa criada por Bill Gates para apoiar tecnologias capazes de reduzir emissões em grande escala. O programa conecta fundadores a capital e mentoria especializada, ajudando-os a levar suas inovações do laboratório ao mercado.
A Terra Oleo chamou atenção pelo potencial de impacto: suas gorduras produzidas por fermentação de precisão reduzem até 86% das emissões, 90% do uso da terra e 88% do consumo de água em comparação com alternativas convencionais. O aporte permitirá à empresa avançar em testes de formulação com clientes e escalar sua produção.
“Estamos saindo do estágio de laboratório e entrando no pré-piloto. Vários dos nossos ingredientes de maior valor já alcançaram paridade de preço com os convencionais”, afirmou a cofundadora e CEO Shen Ming Lee.
Um novo destino para resíduos agroindustriais
Lee fundou a Terra Oleo ao lado de Boon Uranukul e Min Hao Wong. Filha de uma família ligada a um dos maiores produtores de óleo de palma do mundo, ela conhece de perto os problemas do setor: desmatamento em larga escala, perda de biodiversidade, violações de direitos humanos e emissões massivas de gases de efeito estufa.
Hoje, Indonésia e Malásia concentram 90% da produção global de óleo de palma, e a expansão desenfreada das plantações já devastou milhões de hectares de floresta tropical. Ao mesmo tempo, a produção de cacau também está sob pressão: mudanças climáticas e pragas derrubaram estoques globais para o menor nível da última década, fazendo os preços dispararem.
A proposta da Terra Oleo é clara: usar resíduos de amido, biodiesel e processos oleoquímicos como matéria-prima e, via fermentação de precisão, transformá-los em lipídios com perfis sob medida para substituir o óleo de palma e a manteiga de cacau.
“Nossa vantagem está na engenharia avançada de microrganismos, que nos permite programar leveduras para produzir diretamente lipídios prontos para aplicações de alto valor”, explica Lee. “Também aplicamos biologia sintética para melhorar a eficiência do processo e reduzir custos, aproveitando fluxos de resíduos abundantes no Sudeste Asiático.”
Testes com grandes indústrias já estão em andamento
A startup já desenvolveu linhagens de três espécies diferentes de levedura e está conduzindo testes com companhias globais e regionais dos setores de alimentos, cosméticos, cuidados pessoais e oleoquímicos. A produção acontece em Singapura e na Tailândia, em escala laboratorial e pré-piloto.
A expectativa é que, quando estiver em escala total, a tecnologia da Terra Oleo possa evitar até 900 milhões de toneladas de CO₂ por ano nas cadeias de suprimento de óleo de palma e cacau.
“Os recursos captados serão usados para ampliar nossa capacidade, validar aplicações junto a clientes e avançar no desenvolvimento de formulações”, destacou Lee.
Um setor em rápida transformação
O investimento chega em um momento de forte movimentação no segmento de gorduras sustentáveis. A britânica Clean Food Group recebeu recentemente aprovação regulatória nos EUA, Europa e Reino Unido para comercializar seu óleo derivado de levedura em cosméticos. Já a estoniana Äio concluiu uma produção piloto de uma tonelada de substituto de óleo de palma, com planos de entrar no mercado até o fim do ano.
Ontem, a holandesa NoPalm Ingredients anunciou parceria com a gigante de laticínios Milcobel, que fornecerá soro de leite como insumo para sua fermentação. As empresas também estudam instalar em conjunto a primeira fábrica em escala comercial.
Para a Terra Oleo, o caminho está apenas começando. Mas o apoio de investidores de peso e de iniciativas globais como a de Bill Gates mostra que a startup tem tudo para se tornar um dos nomes mais promissores na transição para gorduras mais limpas e sustentáveis.
Fonte: veganbusiness


