Variáveis utilizadas na formação de preços entram em descompasso e desvalorizam o cacau brasileiro

Por Adilson Reis 

Sul da Bahia, abril 2022, São três, as variáveis utilizadas diretamente na precificação do cacau brasileiro: Bolsa NY, cotação do dólar e diferenciais ou prêmios adicionais pagos sobre as bolsas.

Observando dados históricos dos últimos anos, verificamos que a bolsa NY, o principal parâmetro, operou em números estáveis, estimados em torno de usd2.500 /ton. Já o dólar e os diferenciais ou prêmios pagos sobre preços nas bolsas, mostraram intensa volatilidade.  

Nos últimos anos, o ambiente macroeconômico global, sofreu forte influência da pandemia do Coronavírus, alimentando elevada volatilidade nos indicadores financeiros. Internamente, observamos que os reflexos causaram grandes interferência na composição cambial. Nos primeiros instantes, o Dólar atingiu patamares históricos internos, mais elevados já vistos por aqui, ultrapassando a casa dos R$6,00. Atualmente, influenciados por taxas internas de juros elevadas, a moeda americana, foi atraída em grandes volumes para investimentos internos, levando os indicies a desencadear uma firme movimentação de baixa. Ainda nesse cenário, a commodity se manifestou nas bolsas, exatamente conforme as reações das moagens globais, se estabilizando, nos níveis atuais, entre usd2400 e usd2700. 

Diferenciais variam conforme volumes de estoques

Sobre os diferenciais ou prêmios, importante ressaltar, que são induzidos ou retirados, a depender das necessidades de estoques de matéria prima, das indústrias processadoras. Para uma melhor explicação, tomamos por base o mês de março 2021, onde os estoques de cacau nas fábricas, mostravam insuficiência para o abastecimento local, levando os compradores a incrementar premiações sobre NY, acima de usd600 / ton. Comparando esse ambiente, com março/22, observamos, que atualmente existe um grande quantitativo armazenado, gerando conforto, para alimentar as moagens, até as entradas plenas da nova safra. Importante salientar, que o ano safra interno corrente, mesmo comprometido com vasta incidência de doenças fúngicas, promete ampliar a produção em torno de 20%, comparando com a temporada anterior. Nesse cenário atual, acende o alerta para pagamentos de prêmios negativos, sobre os indicies das bolsas. Assim sendo, os preços nominais internos, poderão escalar para patamares, ainda inferiores aos atuais.

Produtores reagem

Desestimulados, os produtores demonstram insatisfação e incapacidade de seguir investindo no setor. Reforçam, quase por unanimidade, que os preços atuais remunerados no cacau, associados aos aumentos exagerados dos insumos agrícolas, impedem de fechar a conta e clamam por uma solução imediata. Importante ressaltar, que existe um quantitativo crescente de novos investimentos em implantações e renovações de lavouvas de cacau, em diversas regiões do país, inclusive nas áreas tradicionais de cultivo. Diante desse quadro, fica claro que, caso não hajam estímulos, sejam eles, por vias oficiais, ou mesmo, através de programas efetivos emergenciais das industrias processadores, o setor facilmente incidirá um possível retrocesso na produção, contrariando os objetivos pregados pelas moageiras, de alcançar rápidamente a auto-suficiência da produção local.   

O parque moageiro nacional, se compõe, principalmente de três grandes empresas multinacionais, as quais, adquirem anualmente mais de 90% de toda produção nacional. Atualmente o preço pago por 1 arroba(15 kg) de cacau beneficiado, gira em torno de R$183,00, contra R$285,00 em março 2021.

Fonte: mercadodocacau

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